Trade School

Foi nesse prédio imponente que tivemos aulas da Trade School

Para conhecermos a Trade School, fizemos nossa aproximação da forma mais simples possível: entramos no site da escola, vimos que nos dias que estaríamos em Londres eles teriam algumas aulas por lá, pensamos no que poderíamos oferecer em troca da nossa participação nas aulas… e pronto, viramos alunos da Trade School por dois dias. E, em resumo, essa é a ideia da escola: na Trade School alguém propõe uma atividade  e os interessados em participar contribuem – não com dinheiro, mas com coisas que a atividade (ou seu proponente) precise. A educação acontece pela troca, sem envolver grana.

No nosso caso, oferecemos fotos que as pessoas que estavam organizando a atividade pudessem utilizar em seus sites, redes sociais e material de divulgação. Outros alunos levaram lanches e bebibas, cada um ajudando de alguma forma.  Assim, participamos de duas aulas: Facilitando o consenso, e Remapeando a cidade. Além disso, ainda marcamos de conversar com a Laura Billings, que foi quem levou a Trade School para Londres.

Remapeando a cidade

O papo com a Laura foi fundamental, pois ela nos contou que as atividades das quais a gente tinha participado não eram tão características da Trade School. Nada contra as atividades em si, ou as pessoas que estavam organizando-as. Mas a questão é que sentimos falta de algo… e esse algo, descobrimos, é algo que a Laura normalmente faz questão de fazer nos eventos mais característicos da escola. Segundo ela, é importante que, ao organizar um evento da Trade School, alguém esteja lá para falar como a escola funciona, apresentar quem vai tocar a atividade e ter certeza de que tudo está em ordem. Isso não ocorreu conosco pois nossas aulas também faziam parte de um festival maior, e já tinha gente do festival e do local fazendo o papel de anfitriões. Então, perdemos essa introdução que daria cara de Trade School às atividades.

Outras atividades que aconteciam em paralelo

E, no fundo, isso diz muito sobre a Trade School. É mais uma plataforma do que uma escola: não tem um prédio, salas de aula, professores, ou cursos. Essa abertura faz com que qualquer pessoa possa usar o site para criar e promover espaços de aprendizado na sua cidade. O lado incrível disso é que encontros pela Trade School já aconteceram em 50 cidades diferentes ao redor do mundo. Já a parte ruim é que em algumas cidades a iniciativa acaba após o primeiro evento. Laura nos conta que ela (e quem mais resolve se juntar na organização da Trade School em Londres) acabou se viciando: ao fazer esses espaços acontecerem, ela adora aprender sobre os mais variados temas e conhecer novas pessoas. E, nela, tocar a Trade School só alimenta essas paixões.

Isso tudo começou em Nova Iorque, quando um grupo de pessoas buscava formas mais eficientes de compartilhar os recursos que eles mesmos tinham em mãos. Surgiu daí a ideia da Trade School, um espaço de aprendizado auto-organizado onde qualquer um pode ensinar qualquer coisa. E, em troca, recebe o que escolher pedir para as pessoas interessadas em participar da atividade.

Objetos das trocas

A Trade School acredita que todo mundo tem algo a ensinar: as pessoas podem não saber que tem, mas a Laura nos disse que é só perguntar para alguém “e aí, o que você poderia compartilhar com a gente?” e a pessoa começa a considerar a possibilidade. Além disso, ela fala que não é difícil achar professores. Sempre aparece gente querendo compartilhar algo. Na verdade, essa ideia é mais profunda. A base dela está em um amor muito sincero pelo o que cada um sabe, pelo o que cada um escolhe se dedicar. E, a partir desse amor por um certo tema, por uma área, por uma técnica, a vontade de compartilhar essa paixão com outras pessoas é mais espontânea. Assim, a Trade School tenta tornar essa experiência possível para o maior número de pessoas possíveis.

Uma das coisas mais interessante que a Laura nos contou é que quem participa da Trade School como aluno normalmente retorna querendo ensinar alguma coisa: uma vez lá, as pessoas percebem que a experiência não é intimidadora e acabam se empolgando para ensinar ou compartilhar alguma coisa na próxima oportunidade. Ao ver como diferentes aulas funcionam, as pessoas ganham um repertório que ajuda a montar sua própria aula. Quem ainda está inseguro se motiva, se tranquiliza – e isso mantém o modelo simples da Trade School.

Mapa que construímos em uma das aulas

Além disso, a participação em aulas da Trade School tem um impacto mais amplo. O movimento ainda tem como objetivo mudar a visão que as pessoas tem sobre educação. Para isso, a ideia é justamente explorar formas diferentes de aprender, não só em salas de aula, mas em cafés, festivais etc. Aprender compartilhando o que elas sabem, o que elas gostam, o que elas tem a mão, sem envolver dinheiro. Aprender em um modelo horizontal, sem hierarquia, onde a condição de professor ou aluno é temporária, fluída, quase uma casualidade (e não uma posição hierárquica).

Esses valores, segundo a Laura, ajudam a construir uma visão mais aberta sobre educação. Para ela, a generosidade e o princípio de cooperatividade da Trade School são fundamentais. E, colocados em prática, resultam na troca de habilidades e recursos, na sensação de que qualquer um pode começar uma Trade School. Por sinal, ela nos contou que só existem duas restrições caso você queira iniciar uma Trade School na sua cidade, ou propor alguma atividade na plataforma: você não pode usar a Trade School para fazer campanha (não aos movimentos políticos ou partidários), e você não pode usar a Trade School para vender (não ao marketing). Essa abertura, ainda, dá ao modelo uma outra vantagem: uma infinidade de temas e assuntos sendo ensinados, de discussões cívicas, até como fazer compostagem. Tudo só depende da imaginação das pessoas que topam compartilhar suas paixões em forma de aulas na plataforma.

Infográfico

Assim, Laura resume a Trade School e a provocação que a escola faz ao partir da ideia de colaboração para propôr uma nova forma de educação:

A Trade School te ajuda a reencontrar o amor por aprender, de uma forma diferente. Você vem à Trade School, você aproveita, você percebe que você tem algo a ensinar, e isso te dá confiança. Você pode até seguir daí para uma educação mais formal. Eu acho que ambas formas de educação podem andar juntas, eu acho que elas são ferramentas diferentes, diferentes projetos fazendo coisas diferentes.

Por fim, Laura nos deixa um convite importante para quem gosta da proposta: para 2015 os fundadores da Trade School em Nova Iorque estão planejando um encontro global, para que pessoas do mundo todo possam aprender com as experiências umas das outras. Quem se interessar, é só ficar de olho!