Hyper Island
Conhecemos a Hyper Island através de uma longa conversa com o Jim Ralley, uma das pessoas envolvidas fortemente com o projeto da escola. Ele havia saído de Manchester, onde fica a Hyper Island da Inglaterra, e estava a caminho de Singapura, onde eles estavam inaugurando mais uma Hyper Island e um novo curso. O encontro aconteceu no reduto ciclista Look Mom No Hands!, em Londres, e tomamos alguns cafés e cervejas artesanais enquanto conversávamos.
Para entender o que é a Hyper Island, o Jim contou um pouco da história dela: “tudo começou, como toda boa história começa, com três caras em um bar”. Isso foi na Suécia, em meados dos anos 90. Eles tinham um projeto de CD-ROM para fazer. Um dos caras era da área de tecnologia, outro, da área criativa, e o terceiro, da área de negócios. E viram que tinha algo errado: o mercado (no caso, o projeto de CD-ROM) exigia que essas três áreas interagissem intensamente, mas na prática era muito difícil fazer essas três áreas conversarem. É com essa pegada, então, que começa a Hyper Island, com a ideia de ser um espaço de formação para pessoas que querem transitar por várias áreas que a educação mais tradicional estava insistindo em separar. Uma escola dinâmica, que se atualiza com a velocidade do mercado e do mundo.
Assim, ao invés de ter como base o ambiente acadêmico, a Hyper Island tem o foco nas necessidades reais e imediatas do mercado de trabalho e dos próprios alunos, criando um ambiente que também traz mais liberdade: eles ajustam a estrutura do programa de acordo com essas necessidades, não obedecendo um esquema tão rígido como nas universidades.
Essa filosofia, na prática, fica nítida com vários detalhes e exemplos que Jim nos contou. Primeiro, a experiência dos alunos é dividida entre momentos na Hyper Island e momentos de dentro de empresas. Como alguns alunos se mostravam mais interessados em criar o próprio negócio (ao invés de carreiras dentro de outras empresas), a escola passou a ter um foco empreendedor também. Ao invés de professores de carreira, a escola abriga experts do próprio mercado, que auxiliam os alunos de acordo com o tema trabalhado. Os temas trocam mais ou menos a cada mês, e a cada novo tema, um novo corpo de experts participa das discussões. Se o time da Hyper Island não tem a expertise que precisam, eles buscam novas parcerias com empresas e profissionais. Nos meses finais, no que seria o trabalho de graduação, os alunos são supervisionados ou por orientadores de dentro da escola, ou por profissionais de empresas; mas isso não é um estágio, é um projeto baseado do mercado de trabalho, no qual os alunos tem que trabalhar com profissionais do mercado para resolver um problema que a empresa tenha, ou ainda propor um desafio, uma coisa nova dentro de alguma empresa.
Resumindo: A Hyper Island parte do pressuposto de que a educação tradicional não representa o mundo real, o mundo do trabalho “lá fora”. Então eles se guiam pelo próprio mercado para estruturar seus cursos, trazendo essas necessidades do mercado para as “aulas”. A ideia é simular o ambiente de trabalho dentro da própria escola, com experts e projetos reais. Lá os alunos não escrevem artigos, fazem briefings e desenvolvem projetos.
O aprendizado, para a Hyper Island, acontece pois ao testar o ambiente de trabalho na escola, os alunos tem a oportunidade de refletir sobre o que foi testado – e esse é o lado acadêmico que eles defendem. Uma academia que, apesar de olhar e botar as mãos em problemas do mundo “real”, ainda preserva um espaço para pensar em como foi essa experiência. Eles criam, assim, um ciclo de aprendizagem:
- Experimentar
- Refletir sobre o que experimentou
- Criar um novo comportamento com base na reflexão
- E esse novo comportamento gera um nova experiência, retomando o ciclo
O foco é no ciclo, é no experimentar e refletir. Acertar ou falhar não é tão importante quanto experimentar e refletir.
Essa abordagem dá ainda um lado muito humano para a escola. A forma como eles encaram o desenvolvimento humano, o desenvolvimento individual através desse ciclo é o que está na raiz da Hyper Island. Por um lado, essa abordagem cria um senso de comunidade, uma confiança grande entre o grupo, e acaba incentivando a liderança em grupos orgânicos a cada momento. Por outro lado, a Hyper Island nunca vai dizer ao aluno o que ele deve fazer, ela não dará as respostas; ela é mais um ano sabático do que uma universidade, um espaço que acolhe a pessoa, que acolhe os erros e os acertos para, assim, fazer com que o aluno aprenda. E isso, no fundo, é o que faz a diferença: ao invés de mudar o mundo, mudar a si mesmo através desse ciclo. Como Jim nos contou:
Criar grupos unidos, focar na dinâmica dos grupos dos estudantes – esse é o meu trabalho. Eles criam uma comunidade unida, eles aprendem uns com os outros, eles trabalham juntos – e isso é o que importa de verdade. Tanto quanto aprender sobre o digital, negócios e tecnologia, é importante aprender sobre pessoas, como pessoas se comunicam; fundamentalmente entender quem você é, como você trabalha e como você reage às outras pessoas. Por que esse é a única coisa que eu posso controlar, como eu reajo a uma certa situação.
Por fim, mudança é o que as pessoas que procuram a Hyper Island estão buscando. Seja uma mudança do analógico para o digital, ou até mesmo uma mudança de uma vida agitada para uma mais calma. E, uma vez lá, ninguém encontrará respostas prontas. Ao invés disso, o que o ambiente que eles criaram oferece é um espaço em branco para experimentar, errar (ou acertar, tanto faz) e aprender com isso.
A Hyper Island está em várias cidades. Começou em Karlskrona na Suécia e hoje existe também em Estocolmo, Manchester, Nova Iorque e Singapura. Já os alunos, são de diversos países (inclusive foi um brasileiro, formado pela Hyper Island de Manchester, que nos colocou em contato com o Jim – muito obrigado, Paulo!). No vídeo abaixo, feito por uma turma de mestrado em Gestão de Mídia Digital, dá para ver um pouco dessa diversidade das pessoas que compõem a Hyper Island (e ainda, como são os projetos desenvolvidos durante o programa):
As turmas são pequenas, normalmente entre 20 e 40 alunos. Com essa rede de alunos e escolas em diversos países, a reputação da Hyper Island é grande (e, claro, positiva), ajudando muito na hora de conseguir as parcerias com o mercado de trabalho – o que só reforça ainda mais o modelo que eles criaram. Essa é a Hyper Island, uma escola que traz as necessidades do mercado de trabalho para o momento de aprendizagem, criando um ambiente de reflexão, criando experiências que visam mudar o mundo começando pela mudança de si mesmo – E é isso que resumimos no nosso infográfico: