Hyper Island

Conhecemos a Hyper Island através de uma longa conversa com o Jim Ralley, uma das pessoas envolvidas fortemente com o projeto da escola. Ele havia saído de Manchester, onde fica a Hyper Island da Inglaterra, e estava a caminho de Singapura, onde eles estavam inaugurando mais uma Hyper Island e um novo curso. O encontro aconteceu no reduto ciclista Look Mom No Hands!, em Londres, e tomamos alguns cafés e cervejas artesanais enquanto conversávamos.

Jim nos contando sobre a Hyper Island

Para entender o que é a Hyper Island, o Jim contou um pouco da história dela: “tudo começou, como toda boa história começa, com três caras em um bar”. Isso foi na Suécia, em meados dos anos 90. Eles tinham um projeto de CD-ROM para fazer. Um dos caras era da área de tecnologia, outro, da área criativa, e o terceiro, da área de negócios. E viram que tinha algo errado: o mercado (no caso, o projeto de CD-ROM) exigia que essas três áreas interagissem intensamente, mas na prática era muito difícil fazer essas três áreas conversarem. É com essa pegada, então, que começa a Hyper Island, com a ideia de ser um espaço de formação para pessoas que querem transitar por várias áreas que a educação mais tradicional estava insistindo em separar. Uma escola dinâmica, que se atualiza com a velocidade do mercado e do mundo.

Assim, ao invés de ter como base o ambiente acadêmico, a Hyper Island tem o foco nas necessidades reais e imediatas do mercado de trabalho e dos próprios alunos, criando um ambiente que também traz mais liberdade: eles ajustam a estrutura do programa de acordo com essas necessidades, não obedecendo um esquema tão rígido como nas universidades.

Imagens da Hyper Island (Inside Hyper Island's MA Digital Media Management Program 2012)

Essa filosofia, na prática, fica nítida com vários detalhes e exemplos que Jim nos contou. Primeiro, a experiência dos alunos é dividida entre momentos na Hyper Island e momentos de dentro de empresas. Como alguns alunos se mostravam mais interessados em criar o próprio negócio (ao invés de carreiras dentro de outras empresas), a escola passou a ter um foco empreendedor também. Ao invés de professores de carreira, a escola abriga experts do próprio mercado, que auxiliam os alunos de acordo com o tema trabalhado. Os temas trocam mais ou menos a cada mês, e a cada novo tema, um novo corpo de experts participa das discussões. Se o time da Hyper Island não tem a expertise que precisam, eles buscam novas parcerias com empresas e profissionais. Nos meses finais, no que seria o trabalho de graduação, os alunos são supervisionados ou por orientadores de dentro da escola, ou por profissionais de empresas; mas isso não é um estágio, é um projeto baseado do mercado de trabalho, no qual os alunos tem que trabalhar com profissionais do mercado para resolver um problema que a empresa tenha, ou ainda propor um desafio, uma coisa nova dentro de alguma empresa.

Agora o Jim é que estava interessado em ouvir de nós sobre o Estaleiro Liberdade!

Resumindo: A Hyper Island parte do pressuposto de que a educação tradicional não representa o mundo real, o mundo do trabalho “lá fora”. Então eles se guiam pelo próprio mercado para estruturar seus cursos, trazendo essas necessidades do mercado para as “aulas”. A ideia é simular o ambiente de trabalho dentro da própria escola, com experts e projetos reais. Lá os alunos não escrevem artigos, fazem briefings e desenvolvem projetos.

O aprendizado, para a Hyper Island, acontece pois ao testar o ambiente de trabalho na escola, os alunos tem a oportunidade de refletir sobre o que foi testado – e esse é o lado acadêmico que eles defendem. Uma academia que, apesar de olhar e botar as mãos em problemas do mundo “real”, ainda preserva um espaço para pensar em como foi essa experiência. Eles criam, assim, um ciclo de aprendizagem:

  1. Experimentar
  2. Refletir sobre o que experimentou
  3. Criar um novo comportamento com base na reflexão
  4. E esse novo comportamento gera um nova experiência, retomando o ciclo

O foco é no ciclo, é no experimentar e refletir. Acertar ou falhar não é tão importante quanto experimentar e refletir.

Essa abordagem dá ainda um lado muito humano para a escola. A forma como eles encaram o desenvolvimento humano, o desenvolvimento individual através desse ciclo é o que está na raiz da Hyper Island. Por um lado, essa abordagem cria um senso de comunidade, uma confiança grande entre o grupo, e acaba incentivando a liderança em grupos orgânicos a cada momento. Por outro lado, a Hyper Island nunca vai dizer ao aluno o que ele deve fazer, ela não dará as respostas; ela é mais um ano sabático do que uma universidade, um espaço que acolhe a pessoa, que acolhe os erros e os acertos para, assim, fazer com que o aluno aprenda. E isso, no fundo, é o que faz a diferença: ao invés de mudar o mundo, mudar a si mesmo através desse ciclo. Como Jim nos contou:

Criar grupos unidos, focar na dinâmica dos grupos dos estudantes – esse é o meu trabalho. Eles criam uma comunidade unida, eles aprendem uns com os outros, eles trabalham juntos – e isso é o que importa de verdade. Tanto quanto aprender sobre o digital, negócios e tecnologia, é importante aprender sobre pessoas, como pessoas se comunicam; fundamentalmente entender quem você é, como você trabalha e como você reage às outras pessoas. Por que esse é a única coisa que eu posso controlar, como eu reajo a uma certa situação.

Por fim, mudança é o que as pessoas que procuram a Hyper Island estão buscando. Seja uma mudança do analógico para o digital, ou até mesmo uma mudança de uma vida agitada para uma mais calma. E, uma vez lá, ninguém encontrará respostas prontas. Ao invés disso, o que o ambiente que eles criaram oferece é um espaço em branco para experimentar, errar (ou acertar, tanto faz) e aprender com isso.

A Hyper Island está em várias cidades. Começou em Karlskrona na Suécia e hoje existe também em Estocolmo, Manchester, Nova Iorque e Singapura. Já os alunos, são de diversos países (inclusive foi um brasileiro, formado pela Hyper Island de Manchester, que nos colocou em contato com o Jim – muito obrigado, Paulo!). No vídeo abaixo, feito por uma turma de mestrado em Gestão de Mídia Digital, dá para ver um pouco dessa diversidade das pessoas que compõem a Hyper Island (e ainda, como são os projetos desenvolvidos durante o programa):

As turmas são pequenas, normalmente entre 20 e 40 alunos. Com essa rede de alunos e escolas em diversos países, a reputação da Hyper Island é grande (e, claro, positiva), ajudando muito na hora de conseguir as parcerias com o mercado de trabalho – o que só reforça ainda mais o modelo que eles criaram. Essa é a Hyper Island, uma escola que traz as necessidades do mercado de trabalho para o momento de aprendizagem, criando um ambiente de reflexão, criando experiências que visam mudar o mundo começando pela mudança de si mesmo – E é isso que resumimos no nosso infográfico:

Infográfico